quarta-feira, 20 de abril de 2011

"A Rua", a rua

"A rua", a rua

é curiosa a sensação que tenho tido em relação aos encontros com as ruas da Mouraria. "A Mouraria", "o bairro Mouraria", a idéia de bairro da Mouraria que há tanto escolhi me relacionar, a representação da Mouraria que dia após dia, durante as horas insiste em mostrar-se outra.

O mesmo passa-se com "O Galdino", que desde que tomou uns "penaltis" no bar em que estivemos a dividir uma pizza, deixou de ser uma representação ou vontade de ser que eu queria de Galdino e mostrou-se o Galdino, aquele que também gosta de beber uns gorós no bar. E porque não?

Também ontem "No Beco da Amendoeira", o tal beco da amendoeira complicado, difícil, violento, estavamos a prosear sentados na rua, tomando o resto de sol do dia enquanto a nuvem preta se aproximava, falando de fodas e caralhos e conas com "A dona Helena" que fala muito mais palavrão que o Fernando.

Isso da gente se relacionar com as coisas a partir da gente, sem levar em consideração o que lá está a ser vida, parece-me injusto. Um momento de frustração, do Galdino conceito que vira experiência, conversa, carne. Ou da dona Helena, que vive a falar palavrões e não tem nada que ver com a mulher de nariz grande que teve a vida a costurar toalhas de linha que eu havia imaginado. O nariz continua lá, mas ao deixar-me ver que dona Helena, que Galdino, que dona Luiza, que anã me aparecem, me surpreendo, me frustro e tenho que reconfigurar-me diante das expectativas que construí e construo, para poder ser ali a Luciana , que está a falar de qualquer coisa e não a tentar ser "A artista em processo de criação para o pedras d`água".

Assim é que tenho aprendido imenso sobre o lugar em que coloco "as pessoas" e o lugar de disponibilidade para ouvir as pessoas. O lugar do qualquer.

Foi como quando com "A dona Alzira" me ensinou muito sobre a Luciana que estava a cuida-la: olha, cuidado que ela vai sempre ao portão, a sair para a rua e se perde. Entrou em ação a Luciana que cuida da dona Alzira para que ela não saia pelo portão. Dona Alzira se levanta e começa andar em direção ao portão. Luciana vai atrás, já tinha tudo previsto, a direção, o momento de agarra-la e coloca-la para dentro, o que ia dizer. De súbito dona Alzira que ia para o portão muda de direção e vai para dentro do centro de dia. Luciana surpresa, todos a volta se reconfigurando frente as expectativas criadas durante aquele minuto. E eu, Lucianas, aprendendo que mudar de idéia é o mais genial, e aprender a reconfigurar-se e a deixar ser o que tenha de ser, deixar aparecer as lucianas e alziras que queiram ser naquele momento, libertar o conceito de relação luciana-alzira na experiência luciana-alzira, tem-me sido importante demais nesse processo.

Depois só

De como respondo ao que me leu Luciana, ou de como quando caminho não tenho a medida de nem dos meus passos, nem das distancias que percorro.

Uma vertigem continuada entre as costas e o peito, uma parte da frente que avança e leva consigo a de atrás, os lados que às vezes são osso e outras nem são nada. Me lembraste agora de algo que me vou dizendo nestes dias e que habitualmente diz respeito aos outros e só depois, mais depois lembra de mim. É nesta cotidianidade de lisboa, dos conhecidos, de meus passos conhecidos (eu que os acho conhecidos), que començaram a se abrir brechas que por enquanto não fazem mais que incomodar-me, esquivar-me e procurar escapatorias televisibas às vezes, e outras de olhos fechados. Falo-te e falo-me da arrasadora mudança que emerge nos corpos, no estar mirar cheirar tocar que sem querer esta virando uma pratica. Certa elasticidade aparece enquanto miro a sofia ou a lyncon cada dia e não consigo apreender nada sólido, Que merda!(que beleza!) Mudaste tanto hoje na tarde, teus braços encurtaram-se, tua pele talvez esteja mais rigida agora, já não sei nem te chamar por teu nome, e depois; e só mais depois ainda me perguntei sobre esse movimento em mim.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

limpiezas performáticas en el barrio de la Mouraria, Lisboa, 1 de abril

expansão

Despoleta de novo a dita “bolha de azeite” ou o corpo humano que se mexe numa superficie, planeta, tierra, ar, direcciones, água. Que corpo é esse? E suas traduções em cada um de nós? Um corpo em expansão? A expansao como maneira de dizer um corpo, um corpo em relação com as informações, que se des-limita e re-limita com estas.

A expansão começo a relacionar com a "Auréola", que é a graça de cada coisa ou pessoa supostamente perfeita (acabada), ou seja, o que introduz no acabado uma possibilidade suplementar que lhe indetermina os limites. Tu e eu, envelhecendo, não sabendo o que será amanhã. A bolha de azeite expande-se enquanto pode não ser bolha de azeite, enquanto pode ser “mais” e "menos” que uma bolha de azeite. Se a identificas morre ou deixa de ter movimento.

Também essa minha expansão acontece nessa continua intermitência em que me aproprio e des-aproprio – entre ser e não-ser - de mim mesmo, em um arrepiar do nada em mim e à minha volta, e um constituir-se do meu eu-entorno-eu em configurações mais ou menos sólidas, mais ou menos efêmeras. Na abertura para essa prática de possibilidade de nada, de não-ser eu – ou melhor, ser eu-outro - , um tremor de expansão acontece, numa vertigem que como limpeza ou chuva muda o que lá esta, ou o que era. É sim uma morte, às vezes tão pequena que vão caindo duas lágrimas doces, outras, o rasgar e a ruptura de estruturas que caindo em picado nos deixam espreitar um vazio que é a cara oculta da plenitude.

Habitar essa complexidade e essa simpleza que já está a ser em nós, essa maneira em que o ser e o não ser formam uma cadencia em que um da conta do outro. Compartilhar assim com os outros precisamente o que um pode também não ser (sendo). Diluído com. Com o outro alem e aquém, numa intimidade das distancias e das velocidades.